Seriados - Orphan Black
Talvez
a grande maioria do publico não conheça sobre a série que vou escrever hoje Orphan
Black.
A
série de origem canadense foi ao ar no mês de março desse ano pela rede BBC
América, e foi uma grata surpresa para os amantes de ficção e drama. No enredo
somos apresentados à órfã Sarah Manning (Tatiana Maslany), que volta a sua
cidade para reajustar alguns erros do passado e reaver a guarda de sua filha á
qual esta sob os cuidados de sua mãe adotiva apelidada de senhora S.
O
seriado apresenta uma velocidade impressionante nos fatos, algo até incomum neste
tipo de programas. O fato é que Sarah logo se depara com uma suicida na estação
de metrô, o grande detalhe é que a desconhecida tem uma semelhança incrível consigo.
Decidida a recuperar a guarda da filha, Sarah (Rouba a identidade da suicida),
algo que a levará a uma constante oscilação em sua vida, expondo segredos que
ela sequer podia imaginar.
Com
o desenrolar dos fatos vemos a maestria da serie, que apresenta um tema fictício
e ético conflitante, que é a clonagem humana (sim, Sarah é um clone),
entretanto o enredo não fica preso somente neste tema e aborda a peculiaridade
de cada personagem, a forma como interagem entre si.
Para
que todas essas complexidades da série pudessem ser transmitidas, uma atriz
competente precisaria ser escalada para viver todas essas personagens. Tatiana
Maslany faz um trabalho irrepreensível ao viver cada uma das cópias com uma
propriedade de detalhes que muitas vezes assusta. Da rebelde Sarah, passando
pela neurótica Alysson até a perturbadíssima Helena, cada uma delas tem uma
profundidade impressionante e compartilham a mesma angústia, mas com um
histórico distinto que delega a elas uma identidade única.
Aí
temos outra vantagem de Orphan Black: uma série cheia de ação e ciência poderia
rapidamente ser confundida com uma produção incapaz de representações
emocionais. A televisão aprendeu a entender as mazelas de qualquer criação viva
e hoje faz filmes de animação que humanizam bonecos de massinha. Enquanto Sarah
dá tiros e persegue bandidos, imprime em seus gestos e olhares a agonia de
perceber que sua história se fragmentou em pedaços que não são seus - a dúvida
em se envolver com o namorado da mulher que finge ser, a preocupação em
proteger o pouco que lhe distingue das outras.
O
roteiro não apenas apresenta cópias como Alysson e Cosima, mas se dedica a
descolá-las do papel de alegorias temáticas, dando a cada uma delas uma função,
uma natureza, um anseio. Na metade da temporada, já estamos apaixonados por
Alysson e sua neurose familiar, por sua maneira desajeitada de analisar o
próprio mundo que termina por leva-la à desgraça absoluta. Já estamos
preocupados com a atração que Cosima sente pelos neoevolucionistas e já estamos
com pena da forma como Helena é manipulada pela própria fragilidade.
No
que diz respeito à trama, Orphan Black dá aula de esperteza. Somos enganados e
surpreendidos o tempo todo. Essa é uma fórmula perigosa, sobretudo porque nos
educa a esperar sempre muito e cria uma responsabilidade constante de
superação. Com uma segunda temporada já garantida, provavelmente veremos o
futuro da série se focar na sua maior ambiguidade: Sarah tem uma filha, um
material genético original criado a partir de sua construção reproduzida. Uma
filha que desafia a natureza do anti-natural e que pode ser a resposta para
muitas coisas. No entanto, vamos ter que segurar a ansiedade. Tatiana Maslany e
suas mil facetas só voltam ao ar em 2014.
Até lá, nos resta teorizar a respeito
dessa incrível mitologia que, no desafio da lógica científica, nos entrega uma
história cheia de nervosismo e complexidade.